Leiria é o Castelo, o Museu, a Sé, a Praça Rodrigues Lobo, a Rua Direita e as ruelas que nos levam de volta ao Castelo ou a calçada que se estende sob o Terreiro. Leiria são as lendas e histórias que se contam repetidamente, são as Brisas do Liz, o Leitão Boa Vista e a Morcela de Arroz.
Mas Leiria é muito mais do que isso, Leiria são as pessoas, a sua alma, as suas vozes, os seus rostos.
São esses rostos que vamos desvendar neste espaço, os rostos das pessoas de Leiria e que constroem a sua identidade, assim como os seus hábitos, as suas vivências e o seu contributo para a cidade.
Estes são os Rostos de Leiria.
Célia Lopes nasceu em Rheine, na Alemanha, mas foi em Leiria que cresceu e se tornou um dos ícones da cultura musical da cidade e o rosto e alma da loja Alquimia, situada em pleno centro histórico.
O seu estilo irreverente, marcado por roupas escuras e cortes de cabelo arrojados, contrasta com a sua doçura e sorriso franco, que desarmam qualquer um que entre naquela loja.
A loja Alquimia abriu as portas pela primeira vez em 1994, num pequeno espaço, no Shopping 2000. Atualmente, é uma das lojas que dão vida à Rua Gago Coutinho, marcada por uma montra de gradeamento vermelho, em ferro trabalhado, deixando antever aquilo que é um misto entre loja de música, roupa e galeria de arte, dada a decoração cuidada e eclética que não deixa ninguém indiferente.
Mas a Célia Lopes é muito mais do que o rosto da loja Alquimia, ela é também um dos pilares da Fade In – Associação de Acção Cultural, responsável por muitos dos concertos e eventos de Leiria, entre os quais se destaca o festival gótico Extramuralhas, reconhecido internacionalmente, ou o festival Monitor – Minimal Wave & Post Punk International Rendez-Vous.
As ruas de Leiria conhecem bem a Célia, e a Célia conhece bem as ruas de Leiria, já que o centro histórico é a sua 2ª casa e a intervenção cultural uma das suas maiores paixões.
O Sr. Manuel Oliveira vive há quase sessenta anos no centro histórico de Leiria, mas é, em grande parte, graças ao bar mais antigo do terreiro, Os Filipes, que o seu rosto é reconhecido por todos, independentemente da idade.
É enternecedor ver o carinho e respeito dos mais jovens ao cumprimentarem o Sr. Manel. Os de “meia idade”, recordam com saudade as noites passadas à porta do bar mais antigo do terreiro – alguns ainda têm baterias para ali dar um pezinho de dança, quando as jantaradas se prolongam e o DJ passa música de feição. Já os mais velhos, recordar-se-ão do Sr. Manel, não só por este mítico bar, mas também pelas suas passagens por outros estabelecimentos da cidade, como o café Montanha, a Esplanada do Jardim Luís de Camões, o bar do Bingo ou o bar da União desportiva de Leiria.
Experiência não falta ao Sr. Manel, assim como boa disposição e resposta pronta para todos os que ali parem para beber um copo.
O Sr. Manel abriu Os Filipes em 1987, no piso térreo da Casa do Largo Cândido dos Reis, que dá as boas vindas a quem chega pela Rua Direita. Com grande valor histórico e arquitetónico, este edifício, construído no lugar da extinta Capela de S. Braz, foi projetado pelo famoso arquiteto Ernesto Korrodi, em 1924.
Depois de algumas dúvidas sobre o futuro d’Os Filipes, hoje, sabemos que nada há a temer. O Sr. Manel e a sua família adquiriram o edifício e garantem que a sua segunda casa (e também a segunda casa dos noctívagos de Leiria) não fechará tão cedo.
É uma alegria ver que Os Filipes continuarão a viver e a ser responsáveis por bombear vida ao centro histórico de Leiria, ao som de brindes, boa música e muitas gargalhadas.
Quanto ao Sr. Manel, que entretanto decidiu partilhar o leme com os filhos e netos, lá vai continuando a “aturar” os amantes da noite, o que não é um grande esforço, estamos em crer!