Leiria é o Castelo, o Museu, a Sé, a Praça Rodrigues Lobo, a Rua Direita e as ruelas que nos levam de volta ao Castelo ou a calçada que se estende sob o Terreiro. Leiria são as lendas e histórias que se contam repetidamente, são as Brisas do Liz, o Leitão Boa Vista e a Morcela de Arroz.
Mas Leiria é muito mais do que isso, Leiria são as pessoas, a sua alma, as suas vozes, os seus rostos.
São esses rostos que vamos desvendar neste espaço, os rostos das pessoas de Leiria e que constroem a sua identidade, assim como os seus hábitos, as suas vivências e o seu contributo para a cidade.
Estes são os Rostos de Leiria…
O Sr. António Fernandes é o rosto sempre sorridente da Casa Iglésias, uma das lojas mais antigas do centro histórico de Leiria, fundada em 1940 e situada onde o Largo Marechal Gomes da Costa se encontra com a Rua Comandante João Belo.
Corria o ano de 1950, quando os pais do Sr. António decidiram fazer-se sócios desta loja, que era também oficina. É que ali, não só vendiam como produziam as malas e guarda-chuvas, e até amolavam facas e tesouras… Outros tempos e outra Leiria, uma Leiria de pessoas e de ofícios.
“Produzimos muitas malas de cartão, como as da Linda de Suza.” – refere o Sr. António, com alguma saudade cravada na voz. É que, apesar dos tempos difíceis, o centro histórico tinha, naquela altura, uma vida e um movimento inimagináveis para os dias de hoje. Aquele era, sem qualquer dúvida, o verdadeiro centro da cidade, onde tudo se passava e por onde todos passavam – um autêntico frenesim.
Cedo começou a aprender o ofício na loja e aos 14 anos já trabalhava durante o dia, enquanto estudava à noite. Foram muitos os rostos que conheceu, muitas horas que passou à conversa com clientes, muitos porta-moedas que vendeu e, feitas as contas, já são mais de 60 anos atrás do balcão, o que está longe de ser um problema. O Sr. António gosta mesmo do que faz e não esconde que ainda é cedo para aviar as malas e mudar de vida, rumo ao tão merecido descanso.
Diz o Sr. António que Leiria está diferente, que lhe faltam os ofícios que traziam gente para as ruas, que lhe falta vida. Apesar disso, é bem notório o prazer que lhe dá abrir as portas todos os dias, pela fresca, e poder saudar o poeta Afonso Lopes Vieira, que do outro lado da rua permanece embalado nos seus pensamentos.